Recentemente algum conhecido perguntou, após descobrir que me ouvia todos os dias em comerciais na rádio, quando foi que descobri que tinha uma voz de locutor. Acho que atualmente não faz sentido pensar em locução como algo inato. Digo pois não nasci com nenhum dom especial, apenas prestei atenção em pessoas que faziam bem este serviço ao meu redor e tentei replicá-las.
Pelo que venho vivenciando, trabalhar com a voz tem mais haver em aprender como colocá-la de acordo com cada material e conseguir dar o tom correto do que um estilo específico de voz. Ok, reconheço que na época em que as ondas médias imperavam, um vozeirão poderoso e aveludado (ou regado a muito cigarro e whisky) poderia ajudar a entrar no mercado. Foi o que abriu muitas portas para muitos dos locutores das antigas que conheci. Um deles foi o locutor esportivo Mario Celso, conhecido também como TROVÃO DA BABITONGA.
Nascido aqui em São Chico (SC), ele começou a trabalhar em rádios na região mas cresceu e chegou na Bandeirantes em Campinas (SP), onde dava notícias e fazia o esporte, o que lhe proporcionou viajar para fazer ao vivo a cobertura das Copas do Mundo da Espanha e Argentina… Um parceirasso, por vezes meio esquentado, mas muito competente. Além do petardo sonoro que carregava na garganta, também sabe transmitir muita emoção… principalmente narrando os gols nos jogos.
Conta que poderia ter ido além. Em meados dos anos 1970 um amigo e comunicador da emissora, mais experiente que ele, vivia elogiando seu vozeirão e dizia que, se aprendesse inglês, o levaria para a BBC de Londres, onde tinha contatos. O amigo era Hélio Ribeiro, que já havia trabalhado lá por 10 anos.
Para os mais antenados (BA DUM TSS), Hélio Ribeiro foi um famoso radialista, também com vozeirão, e que dentre outras coisas, fazia antigamente programas de tradução de música. Com uma rápida pesquisa você consegue ouvir alguns desses programas e ver como ele marcou a vida de muita gente, por conseguir transmitir os mais diversos sentimentos pelas ondas da rádio.
Alguém certa vez me disse que a preferência por essas vozes no início da radiodifusão tinha haver com questões técnicas. Dadas as limitações de equipamentos e de frequência de banda (as rádios AM tinham frequências em kilohertz enquanto FMs tem em megahertz… 10 vezes mais espaço pra mandar informação), vozes aveludadas soavam melhor. E isso ajudou a criar um padrão que imperou por muito tempo.
Felizmente, para mim, por meados dos anos 1990 as coisas mudaram e o padrão de voz também. As FMs trouxeram mais diversidade e outros jeitos de fazer rádio e ajudaram a valorizar outros atributos dos comunicadores. Porém uma coisa continua a mesma… ainda tem que se saber como emocionar o público.
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