Uma das coisas que eu mais gostava quando fazia parte da programação diária da rádio popular era sentir a conexão que os ouvintes desenvolviam conosco. Como normalmente compartilhamos coisas do nosso cotidiano no ar, era comum surgirem conversas com o público se identificando e contando outros causos, dando conselhos ou até os parabéns por qualquer feito ou conquista relatados.
Além disso, outra forma que tinham de demonstrar carinho era fazendo visitas frequentes à emissora ou trazendo presentes. Certa vez, quando eu era operador na AM, me senti impactado por ganhar de um ouvinte, pela primeira vez, uma garrafa de cidra e uma cartinha me felicitando pelo final de ano… foi de um senhor simples conhecido como Mineiro Pintor, figura recorrente na rádio. Ele fez questão de ir lá me entregar o mimo em mãos, afinal eu fazia parte da vida dele, já que estava no seu programa preferido.
Comuns também eram os doces e salgados que brotavam na empresa em datas festivas, aniversários ou nos cafés da manhã dos finais de semana. Eram regalos para os comunicadores e a equipe vindos de ouvintes desconhecidos ou até mesmo de algum ilustre cliente.
Isso me lembra de um dia, logo antes de um aniversário meu, em que eu estava operando para o Cacá Martan, comunicador à frente do programa Cultura é 10. Quase encerrando seu turno ele fez questão de lembrar, no ar, que no dia seguinte eu completaria anos e por isso estava intimado a trazer umas empadinhas pro pessoal da firma.
Falei que estava analisando umas cotações e que iria pensar no caso, só pra fugir do enquadro ao vivo, mas não tinha nem verba nem intenção realizar tal tarefa. Porém, meus planos mudaram após receber a ligação de uma prima do meu pai, ouvinte do programa e fabricante de empadas. Ela disse que estava me dando 4 dúzias, de presente, para cumprir as exigências do Cacá.
Feliz da vida, na manhã seguinte peguei as empadas, que vieram junto com um cartão da empresa. Todo o expediente matutino provou e aprovou os quitutes e todos os comunicadores da manhã agradeceram as Empadas Pensky.
Foi no decorrer desse dia que me caiu a ficha: muitos dos ouvintes aproveitavam a situação para conseguir uma propaganda mais em conta. Não que fosse algo puramente calculista… a tentativa de agradar o ídolo era real, mas conseguir associar seu nome ou marca a quem você gosta e ainda alcançar sua audiência por vezes também era a meta (e certamente não incomodava os radialistas).
Pensando retrospectivamente, talvez por isso eu nunca soube o nome do tal Mineiro Pintor… Nunca falavam, só passavam o telefone.
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