Durante a faculdade, enquanto cursava uma das matérias de rádio, produzi uma série de programetes focados em divulgação científica chamada “Ecos da Ciência”. No projeto contei com o auxílio de um amigo, doutor em ensino de física, em diversas frentes (jornalistas não é nada sem boas fontes). Além de estar presente para dar ideias e conferir os textos, ele topou ser a voz do especialista que trazia algumas curiosidades sobre o assunto abordado.
Apesar dos roteiros redondos, do conhecimento que ele já trazia e de sua experiência como professor em sala, suas primeiras tentativas de participação estavam ficando muito quadradas, mecânicas (aquele nervosismo do microfone bate em todo mundo). Após algumas trocas de ideia e tentativas, acabamos achando um tom mais professoral caricato que deu jogo. Ele se soltou no estúdio e o personagem encaixou bem demais com a proposta idealizada. Tanto que consegui uma ótima nota e o projeto reprisou diversas vezes na rádio educativa em que foi lançado.
Esta foi a primeira vez que lembro de dirigir alguém numa produção. Desde então, mesmo ficando meio desconfortável “mandando” nos outros, quando necessário tento exercer esta habilidade. Afinal, por melhor e mais experiente que seja o locutor que está gravando, é o produtor que GERALMENTE tem noção do audio design do material. Agir como técnico e orientar certamente ajudam a chegar no melhor resultado.
Aliás, o trabalho em equipe é fundamental. Expor as expectativas sobre a produção é necessário em toda a cadeia. Se além do texto o setor comercial conseguir orientações de pronúncias, referências de materiais e trilhas idealizadas pelo cliente (algo que frequentemente deixamos a rotina corrida atrapalhar), é possível fazer uma produção melhor, evitando retrabalhos e algumas indisposições que o apagão de informações traz.
Uma dessas situações aconteceu comigo numa vez que pediram pra eu montar um spot para um provedor de internet com um cara de fora, um tal de João Sampaio. Ele chegou e, após uns minutos de conversa (em que percebi como ele falava bem e era desenvolto), partimos para a gravação. Não entendi o que aconteceu quando o cara mudou o tom de voz e o jeito de falar… achei que o off tinha ficado estranho e pedi para que fosse feito mais um take. Mesmo resultado. Tentei passar algumas orientações sutilmente e ele argumentou que achava que mudar muito poderia descaracterizar o material. Perguntei o motivo mostrei o quanto era néscio…
João Sampaio é o nome de batismo do Flakes Power, um youtuber da cidade que é GIGANTE no mundo gamer (o maior produtor de conteúdo de Fortnite do país). O cara tem patrocínio da Red Bull e é FAMOSÍSSIMO, principalmente pra quem acompanha e-sports. O jeito que ele estava gravando era a forma como ele se comunicava com o público (um personagem caricato criado para lidar com a insegurança? Já vi isso em algum lugar).
Não há como negar que um briefing mais completo do comercial (e talvez uma pesquisa rápida minha) teria ajudado, mas felizmente não fui fominha, me comuniquei e tomei conhecimento da minha ignorância, o que ajudou a marcar um golaço.
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