Um dos radialistas que fez parte da história de Joinville e de minha formação profissional foi o Aymoré do Rosário. Ele apresentou por muito tempo programas policiais, primeiro por cerca de uma década na rádio Difusora de Joinville e depois por mais de três na rádio Cultura de Joinville.
O “Ronda Policial” era um apanhado de notícias e entrevistas sobre segurança que ele apurava com suas fontes, mas estava longe de ser sisudo demais. Isso porque a informação era mesclada com crônicas, às vezes sagazes, às vezes divertidas… Tinha um jeito super peculiar de se comunicar, cheio de gírias “das antigas” (ao menos pra mim).
Apesar de fazer parte da grade jornalística da rádio, analisando academicamente alguém pode alegar que toda essa mistura não era bem jornalismo. Uma professora de rádio da faculdade de comunicação social que cursei certa vez o descreveu como uma revista noticiosa apresentada por alguém muito carismático e caricato, com um jeito único de comunicar. “Uma espécie de Silvio Santos, consideradas as devidas proporções”.
Particularmente nunca conversei com o Aymoré sobre isso, mas provavelmente ele concordava. Ele não era jornalista, e sim um comunicador… Acredito que era por isso que ele (e o público) se referiam ao programa mais como “Gibi” ou “Gibizão” do que como “Ronda Policial”, o que acabou o transformando no “Homem do Gibi” (tinha até vinhetinha cantada falando isso).
Infelizmente o “Zé Guedé” (outra de suas alcunhas) faleceu agora, em agosto de 2023, aos 81 anos. Apesar de um início de convivência conturbado (nas primeiras semanas tudo que o operador antigo fazia era melhor), acabamos desenvolvendo uma relação muito boa no ar e fora dele. Às vezes ele tinha um jeito bem turrão, mas também era muito criativo e brincalhão. E isso transbordava frequentemente no ar.
Alguns de seus ouvintes contaram-me que, em alguma segunda-feira, no meio da escalada das notícias do programa (cuja trilha foi surrupiada do filme O Expresso da Meia-Noite), ele anunciou a manchete: “duas cabeças numa mala encontradas no Rio Cachoeira”. Muitos ficaram curiosos por mais informações e aflitos quando o programa chegou ao fim e ele disse que não daria tempo falar desse caso, mas que AMANHÃ ele contaria tudinho para o público.
Dizem que o amanhã foi se estendendo a cada próximo dia, sempre com alguma desculpa nova. O público ficou em polvorosa, querendo saber quem foram as vítimas , quem cometeu tal atrocidade e o porquê. Até a concorrência ficou curiosa pois não conseguia informações sobre o caso (ele deve ter uma fonte muito quente, pensaram). Até que chegou a sexta-feira e ele leu que “duas cabeças foram encontradas numa mala no Rio Cachoeira, aqui no centro de Joinville. Uma cabeça de alho e uma de repolho. O material já havia sido recolhido e levado ao aterro municipal”.
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