É comum observarmos empresas buscando novas tecnologias para oferecer melhores serviços aos clientes. Já vi a emissora em que trabalho reformulando os estúdios para substituir as mesas analógicas por digitais, com o intuito de entregar melhores resultados e modernizar-se. Nem uma década depois, estão novamente mexendo no estúdio para eliminar multicabos e usar o sistema Dante.
Durante os anos 1960, quando as AMs eram o que havia de mais moderno em radiodifusão e 3 emissoras brigavam para se estabelecer na cidade de Joinville, um dos coordenadores da rádio Cultura teve a ideia de copiar quem era referência no meio, a BBC de Londres, e criar uma câmara de eco para deixar o som da emissora mais cheio. A ideia era colocar uma caixa de som reproduzindo o sinal da mesa numa ponta da sala, captar o som com um microfone na outra ponta, após ele passar por uma série de obstáculos (o que causaria um atraso de alguns milissegundos) e inserir esta captação junto com o som da mesa no sinal que ia para a antena, causando a impressão da reverberação do som.
A aposta não funcionou direito pois, segundo o técnico que cuida das “modernizações” na casa desde o final dos anos 1970, seu Nilton dos Santos (também conhecido como MacGyver, e que vez ou outra reconta-me essa história), desde que ele chegou, o espaço servia apenas como depósito e como exemplo de gasto sem retorno.
Um dos motivos citados para o ocorrido foi que a sala e os obstáculos não foram bem projetados, o que não gerou resistência aos 340 metros por segundo da velocidade do som. Outro é que uma solução mais simples havia sido implementada: um gravador de rolo era modificado e nele era colocada mais uma cabeça de leitura, alguns centímetros distante. Enquanto uma gravava o sinal da mesa, a outra reproduzia com milissegundos de diferença e os sinais eram mixados juntos para ir pra antena. Mesmo resultado do outro projeto, mas com custo e complexidade inferiores. E ainda tinha o bônus de não matar um andar inteiro do seu prédio.
Desde então novas e melhores soluções vêm sendo criadas e adotadas, enquanto as outras felizmente acabam virando história. A obsolescência continua correndo tão rápido quanto a inovação, mas pelo menos temos bons exemplos de criatividade em tempos de menos recursos.
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