Na faculdade ouvi certa vez, sobre um certo locutor da Rádio Clube de Niterói que ludibriava ouvintes dizendo que estava bem trajado e apresentando os diversos números musicais do programa numa festa dentro de um cassino em uma chácara, enquanto estava, na verdade, sentado num estúdio só de samba canção (tá, essa última parte minha mente pode ter inventado).
Ele era o Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, comunicador que impactou a vida de muitos brasileiros até o final dos anos 1980.
Ainda sobre o caso, lembro de ouvir que entrevistados iam trajados de forma elegante ao programa por acreditarem que tudo realmente se passava num cassino. Não sei se ela é inteiramente verdade ou não, mas histórias como essa marcam e mostram como o rádio consegue cativar a imaginação do público.
Outra desse tipo que adoro ouvir e já virou lenda aqui pela cidade “aconteceu” na emissora onde trabalho, que antes da migração AM-FM era conhecida como rádio Cultura de Joinville.
O comunicador da casa mais longevo a continuar apresentando seu programa, até o fim das ondas médias, foi o Monsenhor Bertino. Ele começou na emissora nos anos 1960 abrindo as manhãs da emissora com uma palavra de benção durante a madrugada.
Na época ainda era o padre Bertino. Sempre foi sereno, querido, solícito, paciente e nada afeito a prazeres carnais, o que condizia com a posição mas destoava do meio rádio, ainda mais em sua era de ouro, onde muitos sucumbiam a alguns excessos.
Dizem que certo dia o operador de mesa da manhã apareceu pouco antes do início do programa e bem embriagado. Como o show tinha que continuar, ele colocou-se em seu posto e o Padre em frente ao microfone, com os fones de ouvido.
Rodou a vinheta de abertura, começou a trilha e o padre começou a ler sua mensagem. Notando que a trilha ainda estava alta enquanto falava, o padre começou a acenar com a mão de cima para baixo, repetidamente, para sinalizar que o operador baixasse a trilha.
Tudo sem tirar os olhos do papel, para não correr o risco de se perder no ar. Dizem que ele só desviou o olhar de sua mensagem algum tempo depois, quando cansou de sinalizar e não obter resultado. Para sua surpresa encontrou o operador ajoelhado ao lado da mesa de som, de cabeça baixa, rezando.
No fim do programa, questionado, o operador respondeu que fez aquilo pois foi o padre quem mandou ele se ajoelhar e pedir perdão por mais um erro cometido. Nem McLuhan ou Umberto Eco teriam previsto tal reviravolta comunicacional.
Atualmente, quando questionado, o monsenhor diz que isso provavelmente não aconteceu, ao menos não desse jeito, enquanto tem gente mais antiga na casa que jura ter visto ao vivo.
No fim, a máxima do Chacrinha continua certeira: Quem não se comunica se trumbica.
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