Quando eu soube que iniciaria meus serviços como operador de rádio AM, lá em 2011, falava jocosamente com meus amigos que o trabalho seria fácil, já que não ia ter ninguém ouvindo. Mas foi só começar a labuta para descobrir como eu estava enganado. Apesar de, até então, não fazer parte de minha rotina, muitas pessoas curtiam e faziam questão de participar da programação da emissora, ligando e fazendo visitas frequentes.
A verdade é que a rádio AM, que marcou muita gente, já vinha sobrevivendo a vários fins anunciados (com a popularização das TVs, FMs e internet), porém sempre soube como se reinventar e continuar relevante para parte da população.
Obviamente, essa parcela era formada geralmente por pessoas um pouco mais velhas (se comparadas a mim). Pessoas que cresceram com o hábito de acompanhar músicas e notícias quando as AMs eram o máximo em comunicação e o mantinham mesmo com o passar do tempo e a evolução das tecnologias. Imagino que seja equivalente à TV aberta para minha geração.
Foi nesta época que reparei em um fenômeno interessante… Conheci algumas pessoas que eram E não eram famosas ao mesmo tempo, tudo dependia do meio. Estudiosos do assunto falariam em bolhas comunicacionais. Já os mais conhecedores de física poderiam os chamar de “famosos de Schrödinger” (mas sem a questão do veneno pro gato).
Para exemplificar, digamos que eu tentasse impressionar alguma garota contando que trabalhava na rádio com o Aymoré do Rosário, Mario Celso, Samuca ou Cacá Martan. Elas certamente não dariam a menor bola. Já as avós delas…
Isso explica o porquê de minha avó ser uma das pessoas mais empolgadas quando eu disse que começaria na rádio Cultura de Joinville (AM 1250 khz, a namoradinha da cidade). Ela cresceu ouvindo a emissora (referência na cidade por muitos anos) e sentiu que, ao menos por tabela, estaria mais próxima de seus ídolos. Só não imaginava que voar perto demais do sol poderia derreter suas asas de cera.
Num dia qualquer de trabalho eu havia esquecido minha carteira em casa e, como precisaria dos documentos mais tarde, foi a dona Cacilda quem se prontificou a traze-la até mim. Estaria fazendo uma boa ação e ainda seria recompensada conhecendo seus radialistas favoritos. Eram 2 coelhos com uma cajadada só.
Ela chegou perto das 13h, bem na hora do Ronda Policial, com o Aymoré (o homem do gibi, um de seus comunicadores mais admirados). Na hora do intervalo apresentei os 2 e, no decorrer do programa, o Zé Guedé até usou o seu vozeirão para fazer menção à ilustre presença no estúdio.
No fim do dia falei novamente com minha avó e perguntei o que ela havia achado de conhecer um de seus ídolos. Ela respondeu que estava decepcionada…
– “Ele é tão pequeno e feinho… nem parece que tem aquela voz toda!”
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